quarta-feira, outubro 21, 2009

Uma pessoa helpis


Desde que cheguei na Argentina tem sido uma batalha, um prazer e um exercício diário de paciência aprender o espanhol e – pior – o linguajar porteño.

Aqui se fala um espanhol bem diferente do resto da américa latina e da espanha. Em se tratando das gírias, isso fica ainda pior.

Bom, o pessoal do trabalho me ajuda bastante com isso. Volta e meia eles me ensinam uma nova e me explicam como usá-la. Fora as que eu pesco dos nossos papos no almoço e invento de usá-las sozinho.

Por conta disso, eu tenho épocas em que cismo com uma gíria e fico usando ela à exaustão. Tipo quando aprendi o che. Todo mundo era che pra mim e ele virou início, ponto final e vírgula das minhas frases.

Agora já estou pegando mais leve.

Recentemente, eles decidiram que me apresentariam finalmente ao boludo. Eu já conhecia, mas nao tinha coragem de usar.

O boludo é algo parecido com o uso que o carioca dá pro viado. É um xingamento, mas também é como os amigos se chamam “carinhosamente”.

Só que aqui, o boludo se usa pra tudo. TU-DO. Se usa pra homens e mulheres, velhos e infantes, carinhosamente e com muita raiva.

Por conta disso, sempre tive medo de usar a palavra e ser mal-interpretado.

PARÊNTESIS: tive um professor de inglês no Pedro II que me contou uma história sobre o perigo de se usar gírias sem ter total domínio da palavra. Um amigo americano dele que falava português razoavelmente bem estava no Rio andando de carro com ele quando os dois foram fechados por um cara. O tal americano saiu do carro possesso e soltou na lata do outro motorista um “sua danadinha!”

Dito isso, eles ficaram me mostrando situações em que se usava boludo adequadamente para eu aprender.

Aí, ontem resolvi trazer um bolo de laranja  pro trabalho.

Eu adoro bolo de laranja e queria compartilhar esse prazer com alguns companheiros de trabalho no nosso café-da-manhã de todo dia [depois explico melhor essa história].

Cheguei com o bolo e eles não entenderam nada. Não entenderam o bolo. Não entenderam por que eu tinha um bolo e nem o que era aquilo.

Fizeram milhões de perguntas desde se era meu aniversário, alguma data comemorativa brasileira, se tinha ganhado na mega sena etc. Depois que eles se convenceram, muito desconfiadamente, de que eu nao estava comemorando nada para trazer o bolo, eles examinaram o dito cujo. E não entenderam por que não tinha um chantily por cima, ou marshmallow, ou uns morangos ou sei lá mais o quê.

Depois de tanta boludice, mandei logo que eles eram um bando de argentino boludo que não sabia o que era bom nessa vida e comi tudo sozinho.

Não sei se eles gostaram, mas eu usei a palavra direitinho.

*****

Isso me fez lembrar um vídeo que vi no youtube muito bom com vários adjetivos inventivos. Acho que vou dizer todos esses pra eles e ver como se saem tentando usá-los normalmente.


4 comentários:

Carol disse...

hahahahahah

che boludo, vos la usaste recontrabien, gordiii!

tem muitas que eu sei e nao uso, exatamente por isso aí acima: fica rédiculo (pelo menos na minha frase!).

Ju disse...

hahahahah mt bom!!!

agora, eles não quiseram comer um pedaçinho do bolo de laranja?? ô povo estranho!! se vc trabalhasse comigo não sobraria nenhuma migalinha...

Bibi disse...

exatamente... é só falar q tem comida grátis na cozinha q a segulls inteira levanta e vai correndo... hehe

um pedacinho só de bolo não dá nem pra compartir por aqui!

Carla Arend disse...

hahaha, muito, muito real esse teu texto. fico indignada porque eles nao entendem o que é carreteiro.