quinta-feira, julho 31, 2008

Era uma vez...

Era uma vez um menino. Ele andava na rua sempre olhando pra baixo e tendo muito cuidado para não cair num buraco ou pisar em merda de cachorro. Só que ele vivia batendo com a cabeça em postes e placas de rua. Seus amigos reclamavam que passavam por ele e ele fingia não ver – quando na verdade ele realmente não os via por estar sempre com a cabeça baixa.

Era uma vez uma menina. Ele andava na rua sempre olhando pra frente e tendo muito cuidado para não bater em postes e placas e para não deixar desapercebidos seus amigos. Mas ela vivia caindo em buracos e pisando em merda de cachorro. Seus amigos viviam reclamando que ela chegava sempre suja ou machucada aos lugares.

Era uma vez um menino que conheceu uma menina. Ele andava na rua sempre olhando pra baixo. Ela vivia olhando pra frente. Um dia, ele estava amarrando o sapato e ela esbarrou nele. Assim se conheceram. Eles nunca mais bateram em postes e placas ou caíram em buracos ou pisaram em merdas de cachorros.

domingo, julho 27, 2008

Um minuto

Acho que já fiz isso hoje. Já, já fiz sim. Saco essa história de ficar me repetindo. Trabalho repetitivo é uma merda.

O pior é que é sempre assim. Trabalhar é repetir várias vezes algumas poucas tarefas ao longo do mês. Cada dia uma tarefa diferente, o dia inteiro a mesma tarefa. E só se leva um minuto pra cada uma. Saco.

- Ei!
- Hã?
- O que você ta fazendo?
- Como assim?
- O que você ta fazendo?
- Estou trabalhando.
- Eu imaginei. O que pergunto é: você está realizando alguma tarefa diferente da que você acabou de fazer?
- Não...
- A próxima será diferente da que você faz agora?
- Também não.
- Comigo é o mesmo.
- Sim. E daí?
- Você não fica com a impressão de que o dia se repete em um minuto.
- Hã?
- Seu dia inteiro se resume a um mesmo minuto de trabalho repetido diversas vezes ao longo do dia.
- Cara, boiei.
- Sim, sim. Você vive o mesmo minuto do dia o dia inteiro.
- Putz, o que você tomou hoje?
- É sério...
- Vamos almoçar?

Saco! Almoçar é a coisa mais diferente e divertida para se fazer no dia. Há sempre uma comida diferente, no entanto é sempre a mesma. Sempre uma salada. Sempre dois pratos quentes. Sempre arroz e feijão. Sempre os mesmos temperos. Sempre o mesmo gosto. Todo dia uma comida diferente; todo dia se come o mesmo.

- E então? Pensou no que eu falei?
- No quê?
- Sobre o trabalho...
- Nem entendi o que você falou!
- Caralho.
- Quê?
- Nada, deixa pra lá...

Escovar os dentes. Esfrega os de cima. Esfrega os de baixo. Esfrega os da esquerda; os da direita. Esfrega a língua. Cospe. Igual a ontem.

- Viu o jogo?
- Não. Esqueci. Como foi?
- O de sempre. A defesa é muito fraca! Falta atacante decente. É foda!
- É foda...

Essa cadeira vive desregulada. Bom, basta ajeitar direitinho. Pronto. Monitor na altura certa. Teclado e mouse nos lugares ideais. Agora é só trabalhar. O que estava fazendo mesmo?

Acho que já fiz isso hoje.

sábado, julho 26, 2008

A vida corporativa

Ou Tirando a barriga da miséria


Eu já havia escrito sobre o quão fascinantes são janelas em ambientes de trabalho. Particularmente a do banheiro.

Mas isso porque nos escritórios as janelas estão sempre com persianas fechadas e não há janelas nos corredores.

Recentemente, no trabalho um pessoal foi deslocado de sua sala e a dita cuja ficou vaga. Ela tinha o maior janelão para o corredor que sempre estava fechada, com a persiana baixada.

Pois bem, após a saída do pessoal, abriu-se a maior vidraça. Ficou todo mundo aprisionado pelo fascínio de ter um novo lugar pra olhar, todos gravitando em volta, como insetos em volta da lâmpada.

Só pra ficar olhando para um monte de mesas desmontadas e papéis amassados no chão. Só havia isso para ver. Mas todos estavam loucos para meter o bisoião.

Ontem fecharam a persiana de novo. Tinha que ver a cara de órfão que as pessoas faziam ao passar pelo corredor...


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Banheiros em geral são lugares não muito sanitários. Nem devem ser, na verdade.

Esse é o espaço em que a pessoa pode [e deve] mostrar o seu pior. Botar pra fora tudo que a há de ruim dentro de si.

É o lugar em que é socialmente permitido peidar, arrotar, tirar meleca, coçar o saco [ou a bunda, ou a xebereca, ou o que mais lhe vier à mente], conferir se o sovaco ta tranqüilo e até mesmo cantarolar Los Hermanos.

É pra você ser tudo de ruim ali dentro pra poder ser o melhor que consegue ser do lado de fora.

Então eu não entendo alguns comportamentos das pessoas em relação ao banheiro:

1) Pessoas que não usam a proteção de assento em banheiros públicos. Amigo, você não sabe por onde andou aquela bunda antes dela sentar no mesmo lugar que agora a sua se encontra. Não sei quanto a você, mas eu gosto da minha bunda e prefiro ela sem doenças.

2) Pessoas que olham feio pra você quando sai aquele peidinho durante a mijada. Poxa, estou ali me aliviando, é normal que o alívio seja total. Largue de ser quadrado!

3) Sabonete líquido. Cara, não é mais higiênico que sabonete em barra. A mão que você usou pra se limpar é a mesma que vai apertar pra sair o sabonete. No exato mesmo lugar que todas as mãos anteriores à sua apertaram logo depois de limparem seus donos. Sim, no sabonete em barras se toca onde todo mundo tocou antes também. Amigo, o sabonete é auto-limpante! Ele é feito de uma substância que limpa, não há como ficar sujo. A não ser que o espírito de porco anterior ao seu tenha enchido o dito cujo de areia ou largado uns pentelhos por ele, toda sujeira mais se esvai.

Assim sendo, pense bem ao usar o toalete. Ele pode ser muitas vezes sua salvação, mas também pode ser sua perdição.