sexta-feira, outubro 26, 2007

Ainda sobre auto-sabotagem

Você sabe que a coca vai transbordar, mas você continua colocando no copo, em cima da mesa, com a toalha que você acabou de lavar. Fazer o quê? O ímpeto de se fuder é mais forte que o da auto-sobrevivência...

Sobre Decisões

- Decidi ficar com você.
- Hã?
- Decidi ficar com você. Pra sempre.
- Ah, decidiu, é?
- Sim.
- Depois de duas semanas que eu te dei o ultimato?
- Sim.
- E você ficou esse tempo todo pensando no assunto?
- Sim. Não. Mais ou menos.
- Sim, não ou mais ou menos?
- Mais ou menos.
- Cê deve estar de sacanagem!
- Por quê?
- Primeiro você leva duas semanas pra me responder – o que já é um absurdo. E cê ainda vem me dizer que não passou este tempo todo pensando?! Vá-te a merda!
- Não fala assim...
- Aposto que cê ficou este tempo todo com tuas negas. Quando lembrou fez o que sempre faz quando tem que tomar uma decisão importante. Aliás, o que mais me irrita em você!
- Não foi nada disso...
- Não foi?
- Não.
- O que cê ficou fazendo este tempo todo, então?
- Eu realmente fui falar com minhas negas. Na primeira semana. Todas as mulheres que eu tive durante nosso namoro.
- Ce de sacanagem!
- Não. Perguntei a todas se elas achavam que nós tínhamos futuro juntos. Umas responderam prontamente que não – que eu era muito galinha e irresponsável. Outras quiseram levar a sério.
- Cara, não to a fim de escutar teu papinho de merda...
- Espera, ouve um pouco. Não suportei ficar com quem me quis. “Eu nunca aceitarei ser membro de um clube que me aceitaria como membro” – já dizia Grouxo Marx. Achei todas umas merdinhas, se entregando por pouco, sem respeito por si mesmas.
- Que bom! É isso que cê pensa de mim?
- Não. Já foi. Mas não é mais. Na segunda semana decidi que não queria ficar com mais ninguém. Assinei Sexy Hot, Playboy TV, achei alguns sites pornô na internet, passei na farmácia e comprei hipoglós e vaselina e, por fim, arrumei uma daquelas mãozinhas para coçar as costas e sentei no sofá. Estava auto-suficiente.
- Que nojo! Pra que a mãozinha?
- Você sabe que não consigo coçar minhas costas, não tenho elasticidade alguma.
- No final da semana, com o hipoglós no fim, todo esfolado e com tendinite, percebei que faltava alguma coisa na minha vida.
- O quê?
- Você.
- Tem certeza do que cê tá falando? Você não passou no banheiro pra chegar a essa conclusão?
- Como assim? Do que você ta falando?
- Eu sei que você tem a mania de ir a um banheiro público quando precisa tomar uma decisão importante. Que conta sua história pra quem estiver lá dentro e pede a opinião destas pessoas.
- Hein!?
- Aposto como você passou essas duas semanas indo a todos os banheiros públicos que conseguiu encontrar. E não havia dois banheiros que lhe dessem a mesma resposta seguidamente. Só conseguiu se decidir agora porquê encontrou um que conseguiu te convencer.
- Absurdo!
- Tá, tá. Então você quer ficar comigo?
- Sim.
- Ok. Então você tem que me prometer que nunca mais vai ficar com nenhuma outra mulher que eu também não pegue.
- Ok.
- Que não vai mais mentir pra mim ou sumir por semanas, sem avisar antes ou dizer pra onde foi depois.
- Ok.
- Que vai parar de ficar tirando melecas na sala e colocando atrás do sofá.
- Ok.
- E que nunca mais, NUNCA MAIS, vai entrar num banheiro público na vida.
- ...
- Que foi?
- Eu...
- Você o quê?
- Preciso...
- Hã?
- Tenho que ir ao banheiro. Esse bar tem banheiro?

terça-feira, outubro 16, 2007

Boicote-se

O ser humano foi feito com uma falha essencial dentro de si, um parafuso solto propositalmente que só aparece em alguns momentos-chave da vida. Nós nascemos com um ímpeto de autodestruição de curta escala, apenas um machucado pra gente ficar esperto.

É fácil de provar isso, basta se lembrar todas as vezes que você fez uma merda e se machucou por conta disso. Aquele momento em que você vê com toda a claridade o que está acontecendo, prevê o resultado de sua ação, mas não consegue parar de fazer até que a merda esteja feita.

Quando você está segurando aquele prego com a ponta do dedo e percebe que a trajetória do martelo não vai encontrar a cabeça do dito cujo, mas sim seu precioso indicador.

Quando sua cadeira está caindo e você acha que pode pegá-la com o pé e fazer embaixadinha só para, na fração de segundo seguinte lembrar que seu pé não é de ferro – mas quem disse que o pé saiu debaixo daquele peso?

Ou quando você escreve um email respondendo ao seu chefe, mandando ele fazer coisas inimagináveis e completamente proibidas pela Bíblia num momento de raiva para, no momento em que você se acalma e direciona o mouse para apagá-lo o mouse caprichosamente aperta o botão de enviar. Para a empresa inteira.

Saiba que o pior inimigo que o ser humano possui é a si mesmo. Previna-se contra si! Saiba que você vai fazer merda e tente se proteger da ameaça. Se o martelo está vindo, solte o prego – que se dane a parede! Se a cadeira está caindo, deixa bater no chão – que se foda o vizinho de baixo! Se o email está escrito e pronto para ser enviado, deixe-o lá quieto – nunca, repito NUNCA, tente enviá-lo, apagá-lo ou qualquer outra ação que passe pelos botões perto do de envio. Em algum momento você vai desligar o computador e esse problema estará resolvido por você.

Saiba boicotar o boicotador que há dentro de você!

Aliás

Você sabe que Deus te odeia quando você machuca a ponta de seu dedo que você usa para limpar o nariz [no popular “tirar meleca”].

terça-feira, outubro 02, 2007

Capitalismo Selvagem

Que o mundo capitalista é desumano e cruel todo mundo já sabe. Que sistema trabalhista atual é uma quase escravidão num mundo de tantas diversões ao alcance de um dedo está claro a todos. Que os locais de trabalho são insossos, que essa luz branca é super cansativa e a decoração dos ambientes é de mau-gosto ou nula é fato conhecido universalmente.

Agora, o maior sadismo a respeito do trabalho creio ser a janela do banheiro.

Toda vez que vou escovar os dentes após o almoço, escoro os braços no parapeito da janela e olho pra fora. Olho o céu azul, olho a nuvem branquinha e fofinha passear pelo ar calmamente, olho o reflexo da luz do sol nos pára-brisas dos carros que passam, enfim, olho a vida que rola lá fora enquanto estou aqui dentro.

Sinto-me como o gorila do zoológico, segurando as barras da jaula e balançando de um lado para o outro enquanto contempla a liberdade de quem vai e vem a apontar para ele.

Para terminar de forma piegas – mas dentro do tem – cito John Lennon: “Life is what happens to you while you're busy making other plans”.