Eu tenho uma memória muito visual. Não lembro de forma alguma o endereço das pessoas, mas se me pedir pra te levar lá, chego fácil, fácil. Lembro de episódios de programas e filmes logo na primeira cena que assisto. Lembro de textos que li do trabalho só de ler as primeiras linhas, mas não lembro de forma alguma o nome do trabalho.
Mas o que mais me intriga e me deixa em maus lençóis é reconhecer pessoas. Eu lembro do rosto de pessoas que encontrei uma vez, mas lembrar seus nomes e de onde eu os conheço é quase impossível. Demoro décadas para lembrar do nome das pessoas. Aqui no trabalho, falo todo dia com umas 20 pessoas, mas só lembro do nome de umas 6. O resto é tudo “che”.
Na rua, cansei de encontrar com pessoas, reconhecer seus rostos, ser reconhecido e não fazer idéia de quem eram. Sempre rola aquele “e aí, cara, como anda o pessoal?” para tentar descobrir de onde conheço a pessoa.
No entanto, tem um lado desse aspecto da minha memória que é bem interessante pra mim: ver pessoas que lembram amigos, mas que você acaba percebendo que não são elas. Passado o momento de ficar encarando a pessoa como um tarada tentando lembrar quem é, percebo que a pessoa é apenas uma sombra de um amigo e deixo a pessoa quieta – coitada, normalmente já tava chamando um policial.
Os momentos mais interessantes de ver meus amigos nos outros é quando eu olho de relance. Nesta fração de segundo em que vejo a pessoa, tenho certeza de que é meu amigo que está ali.
Não posso deixar de ressaltar como isso é interessante e importante pra mim nesse momento de pouco acesso aos amigos devido à distância.
Hoje, vindo para o trabalho de trem, já chegando na estação eu olho para o meio do vagão e o mar de pessoas se abre. Neste momento, no espaço entre as duas portas da composição, está um cara se equilibrando sem se segurar nos corrimãos e tocando um air bateria. Era o Firls. Era ele, sem sombra de dúvida. Estava de óculos escuros grandes, cachecol preto no pescoço, suéter de tweed vermelho e azul marinho e uma calça jeans apertadinha. Ouvia seu iPod, marcava o contra-tempo com um pé e mandava ver na batera.
No que olhei de novo, o mar de gente escoou pela porta do vagão e pela estação e não vi mais o cara. Mas foi bom receber essa visita inesperada, mas muito bem-vinda – mesmo que apenas por um milissegundo.
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Há 7 meses
7 comentários:
e não falou comigo por quê, seu ingrato?
acha que foi bolinho viajar presse lugar cheio de argentino e ainda por cima acertar o vagão em que você ia entrar?
muito bom!!
era a versão macho do firula, certamente
genial, pedrinho
coé, keiji, fica na moral. comprou o buda na tailândia?
concordo. so' na minha sala do curso estudo com a minha mae, com a minha professora de portugues da quarta serie, com a minha prima e com uma amiga do GNT...
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