Lembra quando você era pequeno e tirava um dia de suas férias para visitar o trabalho de seus pais? Conhecia todo mundo, tinha sua bochecha apertada até só sobrar carne viva e almoçava no bandejão da empresa que você achava o máximo!
Para não destoar do ambiente, pedia uma folha de papel e passava o dia inteiro desenhando alguma coisa, mas sempre com uma cara de compenetrado, de quem está muito ocupado e está fazendo algo de muito importante.
De vez em quando seus pais lhe pediam para fazer algo para eles: “Filhinho, quer ajudar o papai no trabalho? Vai lá no estoque e conta quantos livros vermelhos tem lá.”, “Meu filho, ajude sua mãe e peça ao Tio Soares um PEDIDO-DE-SUBTRAÇÃO-DE-UNIFORMES, por favor.”, “Meu anjo, leve essa pasta lá no segundo andar, lembra? Aquele em que você ficou brincando com a calculadora da moça.”.
Lembra quando você brincava de ser adulto? Vestia a gravata do pai, as meninas colocavam os sapatos e maquiagens da mãe, lembra? Ficava ótimo, muito bonito e de vez em quando até caia bem em você, mas era falso. Você sabia disso, seus pais sabiam disso e quem mais olhasse também saberia.
Pois é. Acho que não cresci. No meu estágio faço trabalhos, em sua maioria, de um nível de dificuldade não muito diferente do que daqueles trabalhos que fazia “para ajudar a mamãe”. Continuo fingindo-me de ocupado enquanto na verdade estou lendo um blog ou vendo meu orkut.
Visto-me como gente grande, mas me sinto como criança. Minhas roupas parecem maiores que eu, fico desengonçado dentro delas. Fico vendo os outros estagiários, parecem todos tão adultos. Imagino quantos anos eles devem ter: 28, 29, 30 provavelmente. Mas quando lhes pergunto todos respondem 23, 24, 25.
Como pode ser então que eles na minha idade já são adultos e eu ainda sou criança? E pior: como pode ninguém perceber que eu sou apenas uma criança, brincando de ser adulto, com roupas de gente grande que não são minhas, fazendo cara de muito ocupado enquanto escrevo um post ou leio meus ê-malas?
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