Ou Uma Carta do Futuro
“É, a vida é uma merda”.Eu queria começar dizendo isso porque, no fundo no fundo, a vida é realmente uma merda.
Você ganha pra perder, sobe pra descer, nasce pra morrer. Tudo o que você conquista em seus anos de vida existe apenas pra serem tirados de você ao longo dos anos ou depois que você se vai.
Tudo menos o que eu tenho.
Nasci sob seu signo e, de certa forma, já tinha meu destino traçado. Engraçado como aqueles gregos malucos estavam certo sobre tantas coisas – inventaram a matemática, a filosofia, praticamente todas as ciências existentes. E ainda tinham os astrólogos.
Você realmente tem seu destino traçado pelos signos. Eles definem sua personalidade, seu parceiro, sua fortuna – o meu definiu minha morte.
Quem diria que minha morte seria eu. Que meu corpo totalmente amotinado se viraria contra mim e me levaria à minha própria destruição.
Será que isso conta como suicídio? E se contar, isso deveria ser um problema? Acho que não. Não sou religioso, muito menos católico.
Não acho que devemos julgar alguém que só quer o mesmo que todo mundo quer – que esse mundo absurdo e horrível melhore antes que ele se vá de vez. Só um pouquinho. Cada um tem sua solução pra essa questão. Alguns compram carro, outros meditam.
Alguns poucos voam.
Deve ser glorioso voar.
Mas, como meu corpo chegou antes de mim, nunca poderei levantar essa hipótese. Cada um se contenta com seu suicídio diário – fumar, beber, andar de carro, viver – o meu é só um pouco mais rápido e doloroso.
Enfim, a vida é uma merda. Mas voar deve ter sido glorioso!